Guitar World, Novembro de 1992
Slash e seu novo parceiro, Gilby Clarke, descrevem o que é preciso pra fazer parte da banda de rock mais famigerada do mundo.
ELE NÃO É IZZY, mas quem é ele?
Quase um ano se passou desde que o Guns N’ Roses anunciou que Gilby Clarke estava substituindo o membro fundador Izzy Stradlin’ como guitarrista base, ainda assim o novo homem permanece um enigma – uma figura obscura na periferia da banda mais perigosa do mundo. Ele é um membro oficial da sociedade secreta de Slash ou simplesmente um Gunner contratado?
Houve uma época em que nem mesmo Clarke tinha certeza da resposta. “Eu nem mesmo achava que iria chegar ao primeiro show,” ele ri. “ Pensei que eles estivessem apenas se precavendo até Izzy voltar. Então eu achava que eles iriam se livrar de mim após o intervalo do Natal de 1991. Mas daí Slash me deu esta linda Les Paul vermelha com um braço em ébano. Depois disso, me senti mais confortável. Não se dá um presente como esse a alguém se as coisas não estão indo bem.”
Longe de ser o equivalente rock n’ roll do carrancudo Homem sem Nome de Clint Eastwood¹, Clarke é bem amável. “Sou um tagarela. Gosto de falar,” ele diz com a confiança de um homem com anos de experiência lidando com público de bares. “Então, o que você precisa saber? Eu me mudei de Cleveland para Los Angeles no começo da adolescência. Era pra eu ir pra faculdade, mas isso nunca aconteceu – eu descobri a guitarra ao invés disso”, ele sorri.
Clarke diz que já que ele nunca era o melhor guitarrista, ele “sempre era o cara que capaz de montar uma banda.” No meio dos anos oitenta, ele construiu uma sólida reputação em Hollywood como líder de banda, liderando bandas de power-pop como Candy e mais pesadas como o Kill for Thrills. Foi durante este período que Gilby conheceu Stradlin’, que compartilhava o entusiasmo de Clarke pelos Rolling Stones. “Nós dois queríamos ser Keith Richards,” Clarke diz na lata.
Ele ficou nervoso por fazer um teste pelo lugar de seu velho amigo? “Não sou um cara muito nervoso, eu acho,” responde Clarke em tom baixo. “A única coisa que lembro claramente sobre o teste é que eles tinha esta área com fita adesiva onde Izzy costumava ficar, e me disseram, ‘Você tem o que é preciso pra preencher este lugar?’ Isso foi bem engraçado.”
Slash explica mais: “Quando Izzy saiu o ano passado pra seguir carreira solo, nós percebemos que nós ou encontrávamos um guitarrista em três semanas ou cancelávamos alguns shows. Nós não queríamos cancelar nenhum show, então começamos a procurar. Eu tinha um pedaço de papel com cerca de 30 candidatos listados, Duff estava procurando e Axl tinha suas ideias, mas ninguém parecia certo. Por um tempo pareceu que Dave Navarro do Jane’s Addiction iria se juntar, mas ele não podia se reunir, então isso nunca aconteceu.
“Eu estava arrancando os cabelos tentando imaginar quem conseguir. Obviamente não podíamos colocar um anúncio no jornal. Alguém ao acaso sugeriu um dos amigos de Izzy, Gilby Clarke. Eu havia pensado nele, mas não o via desde nossos primeiros dias em clubes. Então liguei pra ele, e ele apareceu. Ele foi o único cara que testamos. Um cara!
Gilby encaixou tão naturalmente que eu imaginei que fosse uma dádiva de Deus; eu não senti que tínhamos de procurar mais. Ele simplesmente entrou e fez o trabalho pedido. Ele é um grande cara. Ele é um pouco mais velho do que eu, ele esteve na estrada por muito tempo, e ele é duro na queda. Gilby e eu viramos amigos – é assim que nos relacionamos. Não queremos um cara contratado ou algum tipo estranho, estrelinha que esteja no negócio pela glória, ou para promover uma carreira solo. Queríamos um membro dedicado e ele se tornou isso.”
Nesta primeira grande entrevista de Clarke, ele discute seu papel no GN’R, enquanto Slash esclarece a controversa turnê da banda com o Metallica, bem como seus últimos projetos com o lendário Jeff Beck e o superstar Michael Jackson.
GUITAR WORLD: Gilby, o quanto você conhecia Slash antes de entrar pro Guns N’ Roses?
GILBY CLARKE: Eu não o conhecia muito bem. Ironicamente, a pessoa de quem eu era mais próximo era Izzy. Eu o conheci por volta de 1984, logo após ele se mudar pra Hollywood, e nós realmente nos demos bem. Éramos parte de um pequeno grupo de fanáticos por Keith Richards que eram um pouco alienados da cena heavy metal de Los Angeles. Durante esse período, eu era também o vocalista e guitarrista de uma banda de power-pop de pequeno sucesso chamada Candy, que tinha um contrato com a Mercury e até mesmo fez uma turnê em arenas maiores abrindo para Rick Springfield (o destruidor de corações Australiano mais conhecido pelo seu sucesso Jesse’s Girl).
Izzy e eu eventualmente perdemos contato, porque eu estava ocupado com a banda. Mas eu soube depois que ele estava na banda mais quente de Los Angeles – Guns N’ Roses. Quando eu estava na cidade, eu ia ver o GN’R toda vez que eu podia porque eu queria apoiar Izzy.
GW: Como você soube que o GN’R estava procurando por um substituto para Izzy?
CLARKE: As notícias estavam definitivamente nas ruas. Embora eu tivesse pedido a um amigo que estava trabalhando com a banda para mencionar meu nome ao Slash, fiquei um pouco surpreso quando ele realmente me telefonou pra perguntar se eu não gostaria de fazer um teste. Eu disse, “Sim, acho que posso fazer isso sim.” (risos) Então ele disse, “Aprenda três músicas e venha amanhã.” O engraçado é que eu nem aprendi as três músicas. Eu apenas ouvi algumas coisas, peguei as notas na cabeça, e improvisei no dia seguinte. Eu realmente não tive tempo de preparar nada além disso.
GW: Quais eram as músicas?
CLARKE: Pra ser sincero, eu realmente não lembro. Acho que eram “Civil War”, “Knocking on Heavne’s Door” e uma outra. Então, depois do meu teste, eles me pediram pra aprender mais algumas músicas e me disseram pra voltar no dia seguinte. Isso continuou por uma semana. Eles nunca me disseram que eu tinha o emprego, apenas continuaram me pedindo pra voltar.
GW: Você tinha algumas noções pré-concebidas sobre a banda antes de entrar?
CLARKE: Na verdade não, porque eu os conhecia. Eu apenas decidi que iria fazer as coisas como sempre faço. Assim se eu conseguisse a vaga, eu não teria de fingir que era algo que eu não era. Eu queria que eles gostassem de mim pelo que eu era. Se eu fosse ser falso, eles iriam descobrir eventualmente, de qualquer jeito. Eu não iria tentar ser o Izzy.
GW: Você não tocou seu primeiro show com eles duas semanas depois?
CLARKE: Sim, foi ridículo. Duas semanas! Após uma semana de testes, Slash me telefonou e me disse que o trabalho era meu, e que a banda queria começar a excursionar na semana seguinte. Eu tive de aprender 50 músicas em uma semana, e tocá-las em frente a milhares de pessoas. Meu segundo show foi no Madison Square Garden! Eu ia pro ensaio, tocava o que eu tinha aprendido, daí ia pra casa e aprendia mais cinco músicas. Eu não dormi por duas semanas inteiras – tudo que fiz foi tocar guitarra. Pra piorar, ninguém de fato parecia saber o que Izzy tocava. Eu tocava algo, e Slash dizia, “Eu pensei que você conhecesse a música.” E eu argumentava que conhecia. E então ele dizia, “Não, você não conhece – você está tocando a minha parte!” E então percebemos que não se podia ouvir realmente as partes de Izzy nas músicas. Então tivemos de reconstruir suas partes da melhor forma que pudemos. Duff sabia o que Izzy tocava mais do que qualquer um, então aprendi muito com Duff.
Mas isso também pode ter sido uma benção. Deu a todo mundo na banda a oportunidade de sugerir um toque novo. Eu acho que eles estavam me dando coisas pra tocar que eles sempre quiseram ouvir, mas Izzy nunca tocava. Então minhas bases são uma combinação das ideias originais de Izzy, um pouco das minhas ideias e algumas ideias adicionais dadas pela banda.
GW: Como foi o seu primeiro show? Você colocou progressões de acordes nos braços?
CLARKE: Meu objetivo era ir sem nenhuma cola. E eu realmente sabia todas as músicas exceto duas. E eu ainda tenho colas pra estas duas músicas até hoje! Eu ainda não aprendi elas. (risos)
GW: Slash, como Gilby e Izzy diferem, estilisticamente?
SLASH: Mesmo tendo a banda sempre parecesse perfeita, Izzy e eu nunca sentamos juntos e trabalhamos partes de guitarra. Nós não éramos na verdade um time, nesse sentido. Nós fazíamos uma jam e ele tocava coisas do jeito dele e eu tocava do meu jeito. E mesmo que Gilby esteja tocando essencialmente as partes de Izzy, ele as ajusta então tem mais um senso de unidade – mais de um sentido de que estamos tocando juntos. Isto não é pra rebaixar Izzy de forma alguma, é apenas que eu e Gilby temos uma relação diferente.
GW: Você pediu a Gilby pra chegar próximo dos arranjos originais?
SLASH: Eu disse pra ele aprender o básico e partir daí. Enquanto a turnê progredia, ele progredia. Acho que é importante que Gilby tenha colocado sua própria marca em nossas músicas. É importante que ele sinta que possa contribuir criativamente. Um músico autoconfiante se torna vulnerável quando não permitem que ele faça as coisas dele. Nós contratamos Gilby porque ele é ele mesmo. A última coisa que precisávamos era alguém que piraria a cabeça só pela ideia de tocar com o GN’R. Não precisávamos desse tipo de pressão, porque estávamos tentando lidar com a perda de Izzy. Precisávamos saber que a pessoa a entrar na banda ia segurar as pontas.
GW: Você sentiu em algum ponto que ele talvez não desse certo?
SLASH: Não. Acho que sou um bom juiz de caráter, e eu normalmente sei no primeiro momento se vou ser capaz de lidar com alguém. Leva só apenas algumas curtas conversas casuais sobre nada demais com alguém pra saber se vou me sentir confortável com ele.
GW: Gilby, ao aprender o repertório da banda, quais músicas te deram mais problemas?
CLARKE: Sem dúvida alguma, “Coma.” Ainda não sei ela. É uma canção de 15-20 minutos sem repetições.
GW: Qual música você mais gosta de tocar?
CLARKE: Curiosamente, “Coma.” Eu realmente adoro tocá-la porque é diferente a cada vez. Também gosto de “Pretty Tied UP” e “Locomotive”. Gosto de tocar as rápidas, pesadas.
GW: Alguém te deu instruções de como se portar no palco?
CLARKE: Não, absolutamente não. Ninguém jamais disse o que eu podia ou não podia fazer, ou o que podia ou não podia vestir. Não é assim que a banda é – você apenas sente a situação. Muitas coisas não são ditas. A mesma coisa se aplica à música. A coisa mais difícil pra mim quando eu estava aprendendo o material deles foi lidar com o feeling da banda. Eles sempre diziam “Relaxa, cara, relaxa.” Não é algo que se possa expressar – é algo que se sente. Provavelmente levei alguns meses antes de entrar na onda deles.
GW: Slash, eu soube que recentemente a B.C. Rich fez uma guitarra customizada pra você.
SLASH: Eu nunca contei esta história numa entrevista, mas minha primeira guitarra foi uma B.C. Rich Mockingbird com braço todo em mogno e captadores Bill Lawrence. Era ótima. Tive ela por muito tempo, mas penhorei ela em uma viagem de drogas, e nunca me perdoei por fazer isso. Eu não toquei com uma Rich por muito tempo depois disso. Mas uma noite eu estava na Cathouse (um clube de Los Angeles) e um amigo meu me disse que tinha uma Mockingbird a venda por U$ 150. Eu comprei ela dele e comecei a usá-la. A B. C. Rich ouviu que eu estava usando um de seus instrumentos e ficaram felizes, então eles me fizeram quatro diferentes modelos. Eu acabei ficando com apenas uma, porque sou muito rigoroso com tons e sons gerais de guitarra. Se tem uma coisa errada com uma eu não vou usá-la. Mas eu realmente adoro a que eu fiquei. Estou usando ela bastante agora. Eu não fiz nenhum contrato com eles, mas eles parecem felizes o bastante que eu esteja usando um de seus instrumentos.
GW: O que você procura numa guitarra?
SLASH: Guitarras diferentes fazem coisas diferentes, mas minha favorita, de todas as guitarras é ainda uma boa Les Paul vintage com captadores PAF. Se for uma Les Paul nova, gosto de usar captadores Seymor Duncan Alnico II.
Stratos são pouco imprevisíveis demais pra mim. Eu não gostaria de levar uma boa vintage comigo na estrada, e as novas geralmente são um saco. De qualquer forma ainda gosto das Stratos. Tem certas coisas que você pode tirar de uma Strato eu não se pode de outra guitarra.
GW: Pergunte a Jimi Hendrix.
SLASH: (risos) Nem precisa dizer.
GW: Falando em lendários usuários de Stratos, Jeff Beck iria aparecer em um concerto Pay-Per-View do GN’R em junho. Porque ele cancelou?
SLASH: Finalmente eu consegui fazer uma jam com Jeff Back e nós estouramos seus ouvidos – literalmente! Ele iria fazer aquele show com a gente em Paris, mas por alguma razão seu equipamento não estava funcionando, então ele plugou no meu sistema. Mais tarde aquela noite ele acordou com um zunido insano nos ouvidos; ele teve de ir a um hospital e tudo mais. Ele me telefonou, e eu estava pensando, “Uau, Jeff Beck está me telefonando.” Mas ele estava telefonando pra dizer que estava puto, e que ele não poderia mais tocar ao vivo porque meu amplificador deu a ele tinnitus (uma doença que cria um zumbido nos ouvidos). Ele estava apavorado. Acho que os médicos estão trabalhando pra fazer um aparelho de audição que cancela as frequências que estão incomodando ele. Quer dizer, isso é incrível. Se alguém fosse me dizer isso amanhã, eu ficaria destruído. Cara, espero que ele esteja bem.
GW: Acho que ele está bem. Eu ouvi que ele está trabalhando em um novo álbum.
SLASH: Sei que ele pode fazer trabalho de estúdio, porque ele tocou no disco novo do Duff. Mas não tenho certeza de performances ao vivo. Não acho que foi realmente minha culpa, mas meu equipamento foi a gota d’água. Seu tinnitus foi provavelmente causado por anos de abuso. Mas ainda me sinto mau porque Jeff é realmente um dos grandes. Eu estava numa jam session com ele, Joe Perry, Lenny Kravitz e Gilby, e Jeff estava tocando todas estas coisas incríveis enquanto que simultaneamente falava comigo. Eu queria empacotar as coias aquele dia, mandar os amps pra casa e encontrar um belo emprego vendendo seguros de vida ou algo assim. Eu fiquei pensando, “ Hmmmm, imóveis – pode haver futuro nisso.” (risos)
GW: Gilby, o que você está usando hoje em dia? Você é um cara da Vox, não?
CLARKE: Sim, eu uso nove reedições da Vox AC-30. São todos novos, porque amps vintage não são muito confiáveis pra se levar na estrada. Quando consegui esta turnê, eu prometi a mim mesmo que iria tirar vantagem das oportunidades, equipamentos e conseguir tudo que eu quisesse. A primeira coisa que comprei foi uma nova pilha de Marshalls. Mas meu timbre ficou tão próximo de Slash que acabamos em algo como uma grande parede de zunido.
Então aproveitei a oportunidade pra criar minha própria identidade. Eu sempre gostei de Voxes, apesar de num clube eles serem sempre muito altos. Mas eles se saíram perfeitos no palco. Os Voxes tem um ótimo timbre natural, então basicamente eu ligo eles no 10 e toco completamente seco.
Minhas duas guitarras principais são uma Zemaitis que eu acabei de fazer por encomenda e uma transparente Dan Armstrong. A Armstrong é bem alta e sustém eternamente. Eu estava usando uma Les Paul durante a primeira parte da turnê, mas por alguma razão, ela não soava bem passando pelos amps da Vox. Acho que é por que os Vox são de médio alcance por natureza e as Les Pauls também, então o som fica turvo quando usados em conjunto.
GW: Você mencionou mais cedo que apreciava Keith Richards. A influência dele está em seu número solo. Eu achei que foi um movimento corajoso chegar e simplesmente tocar “Wild Horses” dos Rolling Stones.
CLARKE: Eu nem sabia que iria ter um número solo até o dia antes do primeiro show! Eles apenas chegaram e me disseram, “ Então, o que você vai tocar no seu número solo?” Eu nunca tinha pensado nisso. Quer dizer, porque eu ganharia um número solo? Então Axl disse, “Bem, Izzy sempre fazia um pequeno solo antes de ‘Patience’. Você acha que pode conseguir algo?” Eu não queria ir lá e fazer um solo de guitarra. Slash é o guitarrista solo. Então decidi tocar “Wild Horses”, que é uma das minhas canções favoritas. Ultimamente, tenho feito algo com slide em “Lucy In The Sky With Diamonds” dos Beatles. Ambas as canções te dizem de onde eu vim.
GW: Slash, você toca dois ou três números solos por show. É uma escolha pessoal ou você os faz pra poupar a voz de Axl?
SLASH: É bem de improviso. Nos primeiros shows da turnê Illusion, eu tocava solos pra preencher os buracos enquanto Axl imaginava qual canção seria a próxima. Quando a turnê continuou e o set começou a se solidificar mais, acabamos mantendo alguns espaços abertos. Por exemplo, eu nunca esperei que minha interpretação de “The Godfather Theme” se tornasse uma parte permanente do set – apenas aconteceu, e as pessoas esperam por isso. Tudo evoluiu naturalmente.
GW: Você tem os solos trabalhados na cabeça?
SLASH: Eu não gosto de tocar sem acompanhamento tanto assim, então pelos últimos show Dizzy (Reed, tecladista) e eu começamos a trabalhar num dueto de blues que eu acho que funciona muito bem. É blues básico em escala menor, e adoro fazer isso. Mas muitas coisas são decisivas pra que eu toque um solo sem acompanhamento estendido. Muito depende do quão bem eu posso me ouvir no lugar. Eu não fico diretamente na frente das minhas caixas, porque elas são secas demais, então eu dependo da mixagem do lugar. Porque nós não fazemos passagens de som, a primeira coisa que faço após chegar ao palco é encontrar diferentes lugares bons no palco. Se eu não puder encontrar um bom lugar, então fico mau pelo resto do show. Se eu encontro uma boa área de som posso mandar ver e tocar por mais tempo.
GW: Como você dá a deixa pra banda saber que você vai fazer um solo sem acompanhamento?
SLASH: Eu não dou. Eu apenas toco. Às vezes é uma merda, as vezes é mágico.
GW: Isso ainda é empolgante pra você?
SLASH: Adoro tocar guitarra, e gosto de praticar em casa na frente da TV, mas eu realmente não me animo até estar criando no palco.
GW: Por um lado você diz ser um workaholic, enquanto por outro você parece um tanto indisciplinado fora de uma situação real de estar tocando.
SLASH: Eu gosto de me empolgar, que é porque tenho tanto problema quando tenho tempo de folga. Quando acordo de manhã, preciso ter algo pra fazer. Não sou muito automotivado; não sou um desses caras que se levantam e dizem, “ Vou escrever uma grande canção hoje.” Mas se alguém em foca em algo. Eu vou ralar duro nisso. Mas normalmente alguém ou algo mais dá o empurrão. Eu posso ser o filho da mãe mais preguiçoso do mundo quando não há nada no que me focar. Fico só vendo TV e sentindo pena de mim mesmo. (risos)
GW: Você apareceu em discos de muitos outros artistas. Essa é uma maneira de te manter ocupado?
SLASH: Sim, mas sempre tenho medo de que as pessoas comecem a pensar em mim como um músico de estúdio meia-boca. Por outro lado, fazer sessões me mantém focado em algo construtivo quando o Guns não está tocando. Por exemplo, Michael Jackson acabou de me ligar. Ele quer que eu vá e Europa e toque em um show com ele em algum lugar, e eu vou fazer isso porque não consigo ficar sem fazer nada. Eu também acabei de ajudar ele com seu próximo vídeo, “Give In To Me.” Ele me deu bastante espaço.
É engraçado. Todo mundo pensa que eu toquei o riff em “Black or White,” mas não sou eu. Pra ser sincero com você, eu não sei quem diabos está tocando aquele riff. A maioria das pessoas acham que eu toquei tudo, porque Michael realmente divulgou que eu toquei na faixa. A única parte que toquei é no início, quando o garotinho está tocando air guitar no vídeo.
Eu toquei bem mais em “Give In To Me.” Eu toquei todas as bases e o solo. Foi bem solto. Eu estava fazendo uma jam com a faixa, e Michael apareceu com Brooke Shields. Eu perguntei, “Isto tá legal?” E ele disse, “O que você quiser Slash.”
Quando chegou a hora de fazer o vídeo, Mike deixou tudo em minhas mãos! Eu escolhi o diretor e organizei a banda. Gilby está nela, Tony Thompson na bateria, Muzz Skillings no baixo, Dizzy está nos teclados e Michael canta. Estamos neste minúsculo espaço e é bem rock and roll. É uma coisa totalmente diferente para Michael, espero que ele goste.
GW: Qual o status da turnê Guns N’Roses, Metallica e faith No More?
SLASH: Me sinto mal por James Hetfield (o guitarrista do Metallica sofreu queimaduras de segundo grau quando um canhão de luz explodiu perto dele no palco). Sei que ele está chateado porque o Metallica nunca cancela shows. Imagino que tão logo eles entram em turnê com a gente o inferno acontece! Todos estes shows cancelados não são culpa dele, mas ele se sente responsável. Ele está tentando desesperadamente se curar, e todo mundo está comprometido em terminar a turnê.
GW: Você já previa sua decisão de seguir o Metallica no palco toda noite?
SLASH: Não. Tem um certo tipo de imprevisibilidade com o GN’R, o contrário da rigidez da de toda turnê do Metallica. Nós nunca poderíamos ser a banda do meio, porque isso tiraria o Metallica dos trilhos.
GW: Incomoda você o fato de que o público está exausto quando vocês chegam ao meio do set de vocês?
SLASH: Foi um compromisso. Estamos cientes de que o público está bem cansado no fim da noite, mas lutamos com isso. Mas mesmo que a plateia esteja cansada, sentimos que a resposta tem sido calorosa e apreciativa. De outra maneira seria um desastre. Estamos tentando ser um pouco mais responsáveis com o modo como fazemos as coisas, porque sabemos que outras pessoas estão envolvidas; mas ainda assim, com a gente, é uma situação explosiva.
GW: A banda toda é responsável pela demora, ou apenas Axl?
SLASH: Eu não gosto de subir até estar mentalmente e fisicamente pronto. No entanto, eu admito que três horas está além dos limites. Nós apenas sentimos a situação. Eu não sei. De certo modo, ainda nos sentimos como artistas das ruas. Gostamos de aparecer, nos divertir e tocar na noite sem preocupações com horários e tudo mais. Eu sinto que as produções de show se tornaram rígidas demais. Isso se transformou em uma fórmula, e nós somos o oposto disso. Acho que estaríamos sacaneando mais ainda o público se aderíssemos a essas regras, porque não seríamos metade da banda no palco se não fizéssemos as coias do nosso jeito. É verdade que colocamos fazemos nosso público passar por muita merda, mas não é porque não nos importamos. Cada show é uma viagem totalmente diferente pra nós, dependendo de nosso estado mental. Tentamos dar a cada show um toque único – quase como se fosse nosso último show. É difícil controlar algo assim. É difícil dizer que irá começar exatamente às 21 horas.
Quando começamos a subir no palco tarde, o público inicialmente se perguntava que diabos tava acontecendo. Daí isso se tornou parte do evento. Eles sabiam que ou iríamos tocar um set incrivelmente longo, ou talvez apenas oito canções e ir embora. Nosso show tem o potencial de ser tumultuado ou completamente calmo. As pessoas vêm preparadas para qualquer coisa – mas sempre sabem que vai ser verdadeiro. Não sei fingir isso. A maioria dos músicos tem uma atitude de “o-show-deve-continuar”, e eu concordo com isso em certo ponto, mas não posso fingir. Uma vez que algo negativo aconteça com qualquer um dos membros da banda é difícil pra eu tirar isso da cabeça.
GW: Quase 2.000 fãs causaram um tumulto após seu show de 8 de Agosto em Montreal. Como isso aconteceu?
SLASH: Não tenho certeza. Toda vez que temos um destes afortunados tumultos, somos nós os punidos. É realmente desapontador, porque é como, “Bem, nós acabamos com aquela cidade. Provavelmente nunca mais tocaremos lá.” Você nunca decide causar algo assim. Mas as pessoas acham que decidimos provocar isso. O poder de causar algo assim é impossível pra eu compreender.
GW: O quão consciente Axl está de sua capacidade de provocar a reação do público?
SLASH: Ele está provavelmente 10 vezes mais ciente disso do que eu. Eu posso me esconder atrás da guitarra porque é o meu jeito. Mas me sento ao lado de Axl após o show e ele me alerta para coisas particulares que aconteceram durante um concerto de que eu estive alheio. Ele fala de como ele usou um movimento em particular para expressar uma ideia. Eu fico apenas dizendo, “Hã?” Ele é muito ciente do que está fazendo, e de todo o aspecto sensacionalista de sua personalidade. A única coisa que penso disso é, “Ok, o pedal wah-wah está aqui, meu amp está ali...” Estou ciente da energia e da interação com a multidão, mas não vejo realmente ninguém porque minha cabeça geralmente está abaixada. As pessoas que observo são as pessoas no palco correndo como loucos. Só tento não acertar ninguém.
Lembro de uma vez que eu estava correndo de um lado pro outro do palco, e de repente percebi que Axl estava correndo da direção contrária e que eu não ia conseguir sair do caminho dele. Imediatamente dei uma cambalhota e ele pulou por cima de mim. E eu não perdi uma nota! Foi maneiro.
GW: Diz a lenda que W. C. Fields uma vez caiu alguns degraus com um Martini nas nãos e não derramou nenhuma gota.
SLASH: Duff e eu temos essa coisa onde dizemos um ao outro que tudo bem cair quando se está bêbado, contanto que você não derrube sua bebida. (risos) Mas cair numa escadaria – isso sim é louvável!
GW: Parece que onde quer que a banda vá, o desastre a segue. Isso não cansa?
SLASH: Às vezes parece que o Guns tem de lidar com cada obstáculo possível em nossa carreira. Coisas que são tão grandes que, na maioria dos casos, parariam qualquer outra banda em seu percurso. Mas de alguma forma nós passamos por isso. Estas coias são apenas testes, e cada dia é um novo dia. Você faz o que tem de fazer e segue em frente. Isso é sobrevivência. Se torna frustrante porque você sempre se pergunta, “ Isso um dia vai ter fim? Será que vai ter um período mais calmo?”
Mas eu realmente acho que somos abençoados. Perder Izzy e Steven (Adler, antigo baterista do GN’R) foram os maiores testes que possivelmente podíamos encarar. Por sermos uma família muita unida, perder dois membros foi realmente traumático – ainda que de alguma forma sobrevivemos. Esse foi o obstáculo mais importante. Tão Spinal Tap² quanto possa parecer, ainda somos pessoas reais, e isso foi incrivelmente pessoal.
Nada me derruba agora – nem a adiada turnê com o Metallica. É apenas uma fase e nós vamos em frente. O negócio é não enlouquecer. Acredite em mim, essa situação não é nada comparada a perder Izzy. Essa foi pesada. É por isso que não estou enlouquecendo. Estou apenas aborrecido e ansioso pra pegar a estrada de novo.
1.Referência a personagem que Clint Eastwood encarnou no cinema em filmes como O Bom, o Mau e o Feio, de Sergio Leone, que acabaram por ajudar a definir o arquétipo de cowboys de filmes Hollywoodianos.
2. This Is Spinal Tap é um documentário sobre uma banda fictícia chamada Spinal Tap, dirigido por Rob Reiner e lançado em 1984. O filme satiriza o comportamento e as ambições musicais das bandas de hard rock e heavy metal da época, bem como as tendências hagiográficas dos documentários então produzidos
Fonte: whiplash.net
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